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A espetacularização do machismo, do racismo e da misoginia no Senado Federal

Na última terça (27), o Senado Federal foi palco de um show horrendo que teve no centro da cena o senador da república Marcos Rogério (PL-GO) e ministra de Estado Marina Silva.
Fonte: Profa. Edileuza Alves Silva      30/05/2025

Por Profa. Edileuza Alves Silva

Na última terça (27), o Senado Federal foi palco de um show horrendo que teve no centro da cena o senador da república Marcos Rogério (PL-GO) e ministra de Estado Marina Silva. A espetacularização do machismo, do racismo e da misogenia ocorrido na comissão de infraestrutura, alcançou a todas as mulheres brasileiras fazendo o país envergonhar-se da câmara alta do congresso Nacional.                                                                        

Convidada para uma audiência por esta comissão, a ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima compareceu para dar informações referentes à criação da maior unidade de conservação marinha localizada na margem equatorial, no norte do Amapá, cuja composição compreenderá quatro áreas que são importantíssimas para a proteção da biodiversidade, a garantia da sustentabilidade das atividades pesqueiras artesanais (imprescindíveis para a segurança alimentar das comunidades tradicionais), a pesquisa científica e para a educação ambiental.

Entretanto, o assunto foi secundarizado dando lugar à discussão sobre a construção da BR 319 (Rodovia Álvaro Maia), cuja obra atinge 69 comunidades indígenas (incluindo uma comunidade isolada) e 28 unidades de conservação compreendidas em 13 municípios. 

As ações que seriam dadas pela ministra, sem dúvida, teriam muita relevância, tanto para a comissão que as solicitou, quanto para o fortalecimento da interação entre os poderes executivo e legislativo. No entanto, o fato do Ministério estar ali representado por uma mulher, negra/indígena e oriunda da floresta, suprimiu toda a importância do que fora requerido.   

Infelizmente, para a vergonha da nação, o que ganhou centralidade foi a tentativa de humilhar Marina e através dela, mandar uma mensagem para todas as mulheres do Brasil: espaço de poder não é lugar de mulher. A frase dita pelo senador Marcos Rogério (PL-GO) na condição de presidente da sessão à Ministra de Estado “se ponha no teu lugar”, não ser interpretada meramente como uma frase imperativa com erros gramaticais. O que o senador disse debochadamente para Marina foi: fica no teu lugar e não ouse falar comigo de igual para igual porque tu és inferior a mim; eu sou homem, sou branco e sou rico e tu és mulher e além disso,  és preta e  de origem pobre.

A violência política de gênero praticada pelo parlamentar ficou ainda mais explícita quando o mesmo afirmou ter tratado com respeito todos os ministros que compareceram naquele espaço até então, porém com a ministra Marina Silva não seria possível dar o mesmo tratamento pois, os traços que constituem sua identidade são indignos de respeito.

Mas, quem é mesmo a Marina, Ministra de Estado que fora tão absurdamente desrespeitada pelo senador Marcos Rogério?  Marina Silva, diferente do que o referido senador a vê, possui um currículo extenso que só mesmo quem se dedica à luta política, social, ambiental e intelectual pode ter. Maria é professora, é formada em História, tem especialização em Psicopedagogia e Teoria Psicanalítica, é Doutora Honoris Causa pela Universidade Federal da Bahia e pela Academia Chinesa de Silvicultura. Já recebeu dezenas de títulos e prêmios nacionais e internacionais pela sua luta em defesa da Amazônia como: a "Medalha Duque de Edimburgo", que recebeu em Londres, no Palácio de Saint James, das mãos do príncipe Philip da Inglaterra; o prêmio da "Fundação Norueguesa Sophie"; o prêmio "Champions of the Earth", o maior prêmio concedido pela ONU, na área ambiental; o "Prêmio Goldman do Meio Ambiente pela América Latina e Caribe" que recebeu nos Estados Unidos. 

                                                                     

Na dimensão política institucional, Marina foi vereadora de Rio Branco (1989-1991); foi deputada estadual do Acre (1991-1995); é deputada federal licenciada por São Paulo(2023); foi senadora pelo Acre por dois mandatos (1995-2011); foi ministra do Meio Ambiente (2003 – 2008) e desde janeiro de 2023, ocupa o cargo de Ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima. Já disputou as eleições presidenciais em três pleitos recebendo significativo reconhecimento do eleitorado brasileiro: 2010, 2014 e 2018.

Como se poder ver, o currículo formal de Marina condiz com a sua luta concreta. Ao contrário de mal educada, como a acusou o senador, ela é “um ser da práxis” por isso, reafirmou sua insubmissão diante dos opressores.  Este é o traço mais forte na sua condição de ser e estar no mundo. Foi sendo insubmissa diante da fome, da doença, da exclusão, do latifúndio, do coronelismo, da colonização e da violência que conquistou o lugar que ocupa hoje no mundo. Portanto, a sua saída da sessão antes do horário previsto naquela ocasião, nada teve de fraqueza, medo ou covardia. A sua atitude insubmissa à violência de gênero foi a demonstração de sua grandeza e do respeito para com todas as mulheres do Brasil e do mundo.

A tentativa de humilhar Marina foi infrutífera porque ela agigantou-se e saiu maior do que entrou. Quanto ao senador Marcos Rogério e os seus cúmplices, espera-se que a justiça, a história e o eleitorado façam o julgamento devido.  

 

Profa. Edileuza Alves Silva: Mestra em Educação do Campo (UFRB) e ativista ambiental

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