Por Dr. Eliseu Couto
O ano era 1987, a vila era Riacho de Areia, a professora era Maria Neta e a sala de aula era um depósito alugado pela prefeitura, onde se ajuntavam algumas crianças que gostavam de chegar cedinho, cada uma com seu assento. Um tamborete pequeno para não pesar muito no caminho de casa para escola. Levávamos também dentro de uma sacola ou saco plástico, um caderno, um lápis e uma borracha. Somente alguns conseguiam ganhar dos pais uma mochila.
Ao chegar no salão alugado, os tamboretes eram enfileirados ao gosto da professora. Os cadernos eram apoiados nas pernas dos alunos para anotar as lições das aulas e o dever de casa. Minhas primeiras letras - lembro como se fosse hoje - foram várias letrinhas C de casa, de ciência, de caminhos que eu deveria percorrer dali em diante.
A merenda, às vezes era farofa de amendoim, outras muitas vezes era uma boa sopa que ia ser buscada na mão fechada aos cuidados de dois ou três alunos mais fortes - fui uma vez como auxiliar – que a traziam em um balde grande de plástico para o centro da Vila onde funcionava minha escolinha. Ahhhh! Quando a merenda era PASSARINHA, a gente ainda levava um PEDAÇÃO para casa. Também levava o dever de casa.
O meu primeiro dever de casa foi uma fileira de letra E de Eli, de Eliseu, de Elias... Ao invés do E, eu desenhava um pente. Demorei para aprender riscar no papel somente as três perninhas dessa primeira letra do meu nome. Enquanto isso, travava uma zanga comigo mesmo por não conseguir realizar tão nobre tarefa.
O caminho de volta pra casa, levando o tamborete, era sempre desafiador, mas nos primeiros dias de aula foi mais ainda. A prima Keu foi quem teve o privilégio de me deixar no meu primeiro encontro com a escola e com a professora, enquanto minha mãe morava na roça. Minhas primeiras leituras foi por lá, vendo o balançar das árvores da caatinga e ouvindo um Cabeça de Lenço ao amanhecer dos dias.
Quando desarnei mais na leitura das letrinhas, me lembro de uma tarefinha em que a prof. grafou o seguinte elogio a mim: “Parabéns fofinho”!! Ali eu vi que estava acertando o caminho.
Na Cartilha ainda enfileiramos, mas já estávamos em um colégio de verdade, com salas de aula e com carteiras duplas. Meu caminho ficou mais leve e comecei a sentar lado a lado com um coleguinha. Passou-se, então, a era do tamborete.
E você? Conte também o seu ABC!!
Dr. Eliseu Couto: Doutor em Educação e Diversidade pela Universidade Federal da Bahia (UFBA)