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Leitura e escrita antes do código: reflexões

E você? Como tem se beneficiado através da leitura?
Fonte: Prof. Dr. Eliseu Couto      08/09/2025

Por Dr. Eliseu Couto

Diante da conjuntura atual, da cibercultura, da velocidade dos cliques e das telas grandes e pequenas, a nossa reflexão sempre reporta ao que a escola e até mesmo a universidade discutem em relação ao ensino de leitura e escrita. O que os nossos alunos e professores consideram que seja leitura? Por que a leitura de mundo não pode estar dissociada da leitura da palavra?

A palavra leitura deve ser sempre pluralizada. Não existe o leitor de uma leitura, mas leitura e leitores diante de possibilidades várias de ler o mundo, ler as pessoas, ler a cidade, ler a natureza... num ato incansável de aprender com tudo aquilo que os cerca e os envolve.

Maria Helena Martins nos traz boas reflexões sobre o conceito de leitura em seu livrinho da série princípios, o que é leitura? nos convidando a ampliarmos a noção de leitura, que vai muito além da decifração do código escrito. Ela lança, então, as seguintes questões: “bastará, porém, decifrar a palavra para acontecer a leitura? Como explicaríamos as expressões de uso corrente “fazer a leitura de um gesto”, de uma situação; “ler o olhar de alguém”; “ler o tempo, “ler o espaço”? Com essas indagações, a autora nos leva a entender que o ato de ler vai além da leitura escrita.

Essas questões evocam diálogos sobre o processo de alfabetização e letramentos dos sujeitos. Desde bebês já nos comunicamos e fazemos leituras daquilo que está a nossa volta, das ações as quais respondemos com variadas reações. O grito, o gesto e o desenho, por exemplo, são marcas que formam os marcos importantes que se dão no processo de aprendizagem da criança até que ela chegue à alfabetização escolar. Todos lemos, inclusive os ágrafos.

A escola, a meu ver, é uma parceira na promoção dos variados letramentos sociais. “A capacidade de ler, escrever e calcular é somente, talvez a mola mestra para o acesso mais claro a outras formas. (FERREIRO, 2007, p. 17). É no intercâmbio da leitura de mundo com a da palavra que a escola exerce o seu papel de ampliar o leque de possibilidades de leituras do código escrito.

Como é, então, que imaginamos ver nossos textos escritos sendo usados por uma cultura onde a oralidade é forte? Como ensinar leitura escrita na escola, a quem lê/vê o mundo através das telas? Devemos pensar nesse processo de formação ou autoformação com o outro para o intercurso entre oralidade e escrita, incluindo os textos dinâmicos e multimodais, bem como sua recepção pela escola e as comunidades, evitando assim um dos preconceitos que muitos estudantes sofrem nas escolas, que é o preconceito linguístico. Muitas vezes, a clínica enquadra o indivíduo com dificuldade de leitura e escrita como sendo biológico e patológico. E onde fica o contexto social, cultural e histórico?

Então o papel da educação, da escola e da universidade é aprofundar um trabalho de politização através da formação de leitores maduros, que sejam capazes de intervir no mundo com entusiasmo, sendo sensível à palavra dita, escrita, gestualizada e midiatizada. Ler, como alfabetizar letrando, portanto, é uma convicção, um gesto ao mesmo tempo profissional, político e poético. Ou como afirmou um querido professor da minha época de graduação: “ler é evitar que a alma enfarte”.

E você? Como tem se beneficiado através da leitura?

 

INDICAÇÕES DE LEITURAS:

ARAUJO, Jorge de Souza. Letra, leitor, leituras: reflexões. 2. ed. Itabuna, BA: Via Litterarum, 2006.

FREIRE, Paulo; NOGUEIRA, Adriano. Que fazer: teoria e prática em educação popular. Petrópolis: Vozes, 1993.

FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler. São Paulo, Cortez, 2006.

FERREIRO, Emilia. Com todas as letras. São Paulo. Cortez Editora. 14 ª edição. 2007

MARTINS, Maria Helena. O que é leitura? São Paulo: Brasiliense, 2006 (Coleção Primeiros Passos; 74).

OLIVEIRA, Elaine Cristina de. A relação normal/patológico no processo de aquisição da escrita. Revista entreideias, Salvador, v. 3, n. 1, p. 31-45, jan./jun. 2014.

 

Dr. Eliseu Couto: Doutor em Educação e Diversidade pela Universidade Federal da Bahia (UFBA)

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