Por Antônio Régie Figueiredo
A partida de Vital Farias não foi apenas uma perda irreparável, ela abriu uma ferida profunda no coração da cultura brasileira. O poeta paraibano, cuja trajetória se confunde com a própria identidade do Nordeste, foi uma das vozes mais marcantes da musicalidade popular sertaneja.
Polêmico e, por vezes, controverso em suas posições políticas, Vital transcendeu fronteiras regionais com sua arte. Autêntico e intenso, ele imprimiu em suas composições uma poesia carregada de crítica social, sempre associando sua música à resistência cultural e política.
O historiador Alfredo Bosi nos lembra que a palavra "cultura" vem do latim colo, que significa cultivo e culto. Com o tempo, o conceito se expandiu, passando a abranger crenças, manifestações populares e artísticas. Vital Farias soube cultivar sua musicalidade dialogando com o cancioneiro nordestino e a tradição dos grandes poetas e repentistas paraibanos, como Leandro Gomes de Barros, pioneiro do cordel.
Nascido em terras áridas, fez da poesia uma semente fértil, transformando sua obra em uma narrativa que atravessa a seca, o êxodo rural e a problemática do meio ambiente. Ele foi um verdadeiro cronista e voz presente na vida dos sertanejos brasileiros, sobretudo, dos nordestinos.
Por coincidência ou presságio de Ariano Suassuana, na peça ‘O Auto da Compadecida”, assim como João Grilo, Vital também era de Taperoá. Era astuto como o Grilo e criativo como Chicó. Sem dúvidas, VITAL FOI VITAL PARA A ALMA NORDESTINA. A belissíma canção “A Saga da Amazônia” segue viva e ecoando até os dias de hoje.
A cultura está de luto, a arte lacrimeja e as notas musicais em bom e alto som dão nota 10 para Vital Farias.
Antônio Régie Figueiredo: Prof. Língua Portuguesa, Escritor e Pesquisador de Culturas Populares